Esther Grossi, é contra e diz que o sistema irá criar uma legião de analfabetos.

Escolas estaduais do RS acabarão com repetência até o terceiro ano

Colégios devem ser orientados a mudar gradativamente para o sistema

Comunicação Portal Social



Homologada pelo Ministério da Educação no fim do ano passado, a recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) de acabar com a reprovação nos três primeiros anos do Ensino Fundamental será adotada na rede estadual de ensino a partir deste ano letivo. Segundo o secretário estadual de Educação, Jose Clovis de Azevedo, as direções das escolas deverão ser orientadas a mudar gradativamente para o novo sistema, que cria o ciclo de Alfabetização e Letramento e elimina as séries iniciais.



– Não trabalhamos com decretos. Vamos abrir um processo de discussão em todas as coordenadorias. Mas esse é o caminho para que a escola não antecipe a exclusão pelo processo de repetência. Quem tem vivência em escola pública sabe que o investimento nas crianças por mais tempo permite que ela siga em frente. Reprovar no início afasta o aluno – diz o secretário.



Nas redes municipais, o novo método também deverá ser adotado, mas demorará mais. De acordo com assessora técnica do setor de educação da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Salete Cadore, os conselhos de ensino de cada cidade deverão se debruçar sobre o tema e escolher o caminho.



– A alfabetização pode ser complementada no segundo ano, sem problemas. Admitir os três anos é uma novidade grande demais. Os municípios vão precisar de mais tempo até a adoção – aposta Salete.



Entre os especialistas, a recomendação do CNE chancelada pelo ministro Fernando Haddad é pura polêmica. A ex-secretária de Educação de Porto Alegre na gestão Olívio Dutra (1989-1992) e presidente do Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), Esther Grossi, é contra e diz que o sistema irá criar uma legião de analfabetos.



– Essa mudança não ajuda a superar o desafio primeiro da escola. Eles estão, sim, empurrando muitos brasileiros ao analfabetismo, perpetuando esta lacuna inaceitável, que é a não alfabetização de tantos milhões, os quais sairão cegos para nossa língua escrita. Esse sistema só adia a reprovação que virá nos anos seguintes – diz Esther.



Fonte: Zero Hora





“Eu matei minha mãe” - Esther Pillar Grossi*

A partir do filme que tem este título, quero abordar a importância de uma professora, por exemplo, para que a gente consiga matar nossa mãe simbolicamente. A psicanálise nos esclarece que só matando em nós o desejo de pai e de mãe temos acesso ao nosso próprio desejo. Mas é difícil fazê-lo se não se tem algum outro bom suporte de inter-relação subjetiva.

No filme Eu Matei Minha Mãe, de Xavier Dolan, um jovem canadense, hoje com 20 anos, que fez o roteiro aos 17, se debate ferozmente com a dificuldade de se relacionar com a mãe e com o pai. Mas existe uma professora que o identifica como pessoa sensível e capaz, inclusive inscrevendo-o em um concurso de textos, porque reconhece nos escritos de Hubert real qualidade.

O fato de que esse menino produziu esse filme tão pouco tempo depois de ter vivido momentos tão difíceis mostra como ele deve ter dado a volta por cima das travas que o impediam de frequentar a escola e de tantos outros entraves para encontrar um espaço familiar e, por conseguinte, um espaço no mundo.

Parece-me que uma de suas professoras foi fundamental para isso. Ela foi seu refúgio nas horas das maiores tempestades. E ela foi não só um refúgio afetivo, mas resgatou nele uma competência pessoal que era necessária para que ele encontrasse o rumo de sua existência.

Houve também, é claro, uma benéfica relação homossexual com Erik, sobretudo porque bem aceita pela mãe de Erik. Mas insisto na interveniência positiva da professora, que lhe deu carona após um trágico episódio e que depois o recebeu em sua casa, quando ele era enviado de forma catastrófica para um internato.

Esse filme lembra a história de Daniel Pennac, eminente escritor francês, que foi péssimo aluno, até que um professor iniciou sua salvação, a qual foi secundada também por uma oportuna relação afetiva. É importante salientar que ambas as boas intervenções docentes na vida conturbada desses dois alunos se deram pela via do conhecimento. Os professores ajudaram, permanecendo no âmbito de seu papel profissional. Não invadiram, nem se misturaram ao terreno próprio da família.

Que bom será quando professores e responsáveis pela educação distinguirem bem, por exemplo, o papel da professora do papel da tia ou de qualquer outro familiar! Ensinar é bem específico e diferente de acolher e de cuidar. Assinalar esta diferença não significa que ensinar não deva ter afeto. Só que o afeto de qualquer profissional se concretiza na realização de seu papel social. Um médico ama seus clientes fazendo de tudo para curá-los. E um professor ama seus alunos fazendo de tudo para que eles aprendam. E ninguém mais pode cumprir este papel.

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*Educadora

Fonte: Zero Hora online, 19/01/2011