Nós, professores, precisamos estudar, por Esther Pillar Grossi

As grandes lacunas do ensino, no mundo, são duas que se articulam entre si: a mistura de modelos teóricos para dar sustentação à pratica docente e a debilidade da formação acadêmica dos professores. Com isto, falta-nos competência científica para exercer nossa profissão e cumprir nosso papel social, que é de possibilitar aos alunos o acesso aos bens da cultura, das ciências e das artes que nos legaram nossos antepassados.

Paulo Freire insistiu, alto e bom som, em que "por trás de toda prática, há uma teoria". Se esta teoria é inconsistente, os resultados da prática estão comprometidos fatalmente. Não é preciso nem verificação empírica. É previsível de antemão.

Quando, em medicina, um tratamento não tem a ver com o diagnóstico, não se faz necessário esperar para ver que não funcionará. Quando na construção civil não se seguem princípios básicos de engenharia, em suas descobertas mais recentes e avançadas, pode-se esperar o pior das obras construídas.

Em educação, se passa o mesmo. Se forem utilizados recursos inadequados, porque superados, todas as avaliações de aprendizagem escancararão índices baixos, pela lógica do princípio de causa e efeito.

Toda atividade humana tende a evoluir e a se modificar. Em educação, a evolução é mínima. Uma sala de aula, nos melhores colégios, até na disposição espacial de alunos e professores, continua a mesma desde o nascimento da escola: professores à frente, escrevendo no quadro, alunos uns atrás dos outros, em silêncio, ouvindo e copiando. O professor assistencialisticamente dando aula, dando matéria e dando nota.

Como conciliar essa estrutura escolar com a constatação piagetiana dos idos de 1980 de que há momentos em que se aprende mais e melhor com os colegas do que com o professor, alternadamente em duas fases do belo processo de aprender?

Como deixar-se invadir pela revolucionária constatação de Jacotot, no longínquo ano de 1820, de que explicar não é ensinar? Mais radicalmente ainda, ele afirmou que explicar embrutece. Só se ensina provocando o aluno a pensar, ajudando-o a encontrar-se com suas ignorâncias. É ao mesmo tempo surpreendente e interessante que, muitos anos mais tarde, Sara Pain, com sua imensa sabedoria, mostrou que ignorância não é burrice. Que ignorância tem uma função indispensável na construção de conhecimentos por que a gente só aprende se tem faltas a preencher, que são as ignorâncias. Isto tudo parece simples e fácil dito assim em um texto, mas, para levar essa riqueza toda para a sala de aula, são necessários muito investimento, muita coragem de mudar, muita lucidez, muita humildade e ética, muito compromisso com o ser humano, principalmente, com aquele que freqüenta as redes públicas de ensino.

Surpreende muito que esteja sendo oferecido um Fórum Social pelas Aprendizagens, com uma consistente estrutura de conteúdos atualíssimos nas vivências escolares e que não haja uma invasão de interessados, tanto de escolas públicas quanto particulares ou de universidades. Provavelmente, a escusa para este pouco interesse é de que estamos no fim de ano. Mas é no fim do ano que as escolas apalpam o quanto ensinaram pouco. É portanto um momento propício para serem motivadas por aquela falta que Sara Pain afirma ser o motor para que se busque aprender mais.

Felizmente, professores que fizeram parte do projeto "Alfabetização de alunos com seis anos", de 20 municípios gaúchos, já acorreram para o prazer de estudar, junto com colombianos e brasileiros de outros Estados, mesmo no mês de dezembro, ao final do ano letivo. (Zero Hora – Porto Alegre-RS)




SEC/RS não renova contrato com o Geempa

O Geempa, bem como o Instituto Alfa e Beto e Ayrton Senna, durante quatro anos realizaram para a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul o Projeto “Alfabetização de alunos a partir dos 6 anos de idade”, com o objetivo de determinar uma matriz de possibilidades de aprendizagem para estes alunos que ingressaram pela Lei 10172/2001 no Ensino Fundamental, o qual foi ampliado para 9 anos.

O resultado da participação do Geempa, que trabalhou com 1.770 professores e 36.815 alunos, é de que a alfabetização deve ocorrer aos 6 anos de idade, quando os alunos frequentam o 1ºano do Ensino Fundamental. Deve ocorrer aos 6 anos porque é possível, uma vez que os índices obtidos nestes quatro anos foram acima de 75% dos alunos ao final do 1º ano capazes de produzir um texto escrito e de ler com compreensão também um texto simples contextualizado, parâmetro da UNESCO como demarcador da competência mínima básica para considerar alguém alfabetizado. Além disso, a cada ano, com a ampliação e o aprofundamento da capacitação dos professores que participavam de cursos e de assessorias, foi aumentando significativamente o número de professores que alfabetizaram 100% dos seus alunos. Em 2007, apenas 2; em 2008, 20; em 2009, 60 e em 2010, em 110 turmas todos os alunos chegaram alfabetizados no final do ano letivo.

Por outro lado, a formação para que os professores tenham este desempenho é exigente e requer pelo menos dois anos de estudo acompanhado por especialistas pesquisadores.

No final de 2010 um número expressivo de escolas optou pelo Geempa como instituição para prosseguir neste programa de “Alfabetização de alunos a partir de 6 anos de idade”. Porém, a Secretaria de Educação do Estado, por não ter procurado o Geempa até o dia 31 de janeiro, como ficou acordado oficialmente em reunião com o prof. José Clovis de Azevedo, por este fato expressa sua decisão de não renovar o contrato com o Geempa, uma vez que não assegura o tempo necessário para a organização das atividades inerentes ao contrato, ou seja, curso inicial de 5 dias, distribuição de livros e materiais didáticos para alunos e professores e assessorias durante todo o ano.

Coordenadoras de CRES, diretoras de escolas, professores, pais e alunos que aguardam a presença do Geempa em 2011, num projeto tão importante e necessário, saibam que esta não acontecerá por perda de prazo da atual gestão da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul, a qual não renovou em tempo hábil o contrato com o Geempa.
 
Fonte: http://todospodemaprender.blogspot.com/2011/02/o-geempa-bem-como-o-instituto-alfa-e.html