Futebol e educação

"Se além do domínio da técnica, em qualquer atividade, ainda tivermos um olhar mais amplo do horizonte, só podemos ganhar com isso"

por Silvio Sano
04.12.2007 
 
Acho que algumas pessoas, principalmente os amantes do futebol, não irão concordar muito comigo a respeito de minha opinião em relação ao resultado de um recente jogo de nossa seleção nas eliminatórias da etapa sul-americana para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Foi contra o Uruguai. O resultado foi a nosso favor (2 a 1) e realizado no estádio do Morumbi, em São Paulo.
Pois é, achei injusto… aos uruguaios. Ao mesmo tempo, até para me defender dos apressadinhos, antecipo e afirmo o óbvio: como brasileiro, lógico que gostei do resultado.
Mas, como amante do bom espetáculo e da justiça, para mim, o resultado não atendeu a este último item. No entanto, muitas conclusões e até consolidações de pensamentos tirei… desse jogo de futebol. Como a valorização do estudo, de que a formação educacional seja realmente imprescindível a todos. Até já escrevi a respeito neste mesmo espaço, com o título “Estudar, apesar de tudo”. E nesse jogo, isso ficou claro para mim, mais uma vez (?!!!).
O que tem a ver um jogo de futebol com o estudo?! Calma, calma… explico.
Para começar, é necessário lembrar, para quem não sabe, que o Uruguai tem índice de analfabetismo quase nulo e uma das rendas “per capita” mais altas da América Latina. E isso não é de hoje. Aliás, foi até melhor antes. Até a década de 1960, chegou, inclusive, a ser chamado de “Suíça sulamericana”, devido ao seu perfil de país desenvolvido, com altos índices sociais e estabilidade política. E só pra recordar, já que falamos também de futebol, em 1950, ou seja, ainda em sua época áurea, a seleção uruguaia ganhou a Copa daquele ano, bem em cima de nós e… no Maracanã! Pode? Pelo visto… E será que a explicação dessa tragédia também já não estaria aí?
“O Brasil ocupa a nona posição no ranking de países com maior taxa de analfabetismo da América Latina e do Caribe… perde para Haiti, Nicarágua, Guatemala, Honduras, El Salvador, República Dominicana, Bolívia e Jamaica em número de pessoas que não sabem ler nem escrever…” (Folha On Line – 28/09/2007).
Imagino que alguns dos queridos leitores ainda não devem ter entendido essa minha estranha e insistente associação. Pois bem, voltemos ao recente jogo contra o Uruguai. Quem assistiu, imparcialmente, percebeu o amplo domínio do jogo por parte dos uruguaios. Tinham mais organização, raciocínio individual, coerência, além de controle emocional. E quando, somado a isso, tem também, individualmente, qualidade técnica, o coletivo se sobrepõe às genialidades individuais que, pelo próprio adjetivo já indica… são poucos. Foi o que ocorreu. Ganhamos, mas fomos dominados o tempo todo pela inteligência aliada à técnica do adversário. Ou seja, se além do domínio da técnica, em qualquer atividade, ainda tivermos um olhar mais amplo do horizonte, só podemos ganhar com isso.
Se bem que, às vezes, não… no placar, né.
 

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