CARTA ABERTA PARA CRIANÇAS QUE VÃO À ESCOLA.

Querido menino ou menina !

Há uma série de coisas que você deve saber e que vou explicar nesta pequena carta. Para saber o que é que você deve fazer na escola, e o que é que você deve pedir dela, de seus professores e colegas.
Certamente você já deve ter ouvido repetidas vezes o que você deve fazer, ou seja, suas obrigações: comportar-se bem, respeitar professores e olegas, fazer os deveres de casa, ter os cadernos em ordem e em dia com a matéria, cuidar do asseio pessoal, ser amável com todos. Isto tudo é correto e você deve tentar fazê-lo. Mas aqui vamos falar agora não das obrigações que você já conhece, mas do que os outros devem fazer por você. Ou seja, vamos falar dos direitos que você tem.
Ninguém pode maltratá-lo por ser criança. Ninguém pode puxar suas orelhas, bater em você ou machucá-lo. Ninguém pode rir de você, humilhá-lo, envergonhá-lo em público, mandá-lo ficar de pé num canto ou agir deforma grosseira com você. As crianças devem ser bem tratadas, queridas erespeitadas. Você deve ir feliz para a escola, tranqüilo,sem medo.
As pessoas mais importantes da escola são as crianças, não os adultos.
Ninguém pode maltratá-lo por ser pobre. Ser pobre não é pecado. Também o seu professor ou professora provavelmente é pobre.
Em nosso país, a maioria das pessoas são pobres. Em todo o mundo, a maioria das crianças são pobres e a maioria dos pobres são crianças.
Você não é culpado disso. Se há tantos pobres no mundo, é porque há injustiça.
É a nossa sociedade que está mal, não você. É nossa sociedade que deve envergonhar-se, não você.
Ninguém pode maltratá-lo por ser mestiço, índio ou negro. Todos os latino-americanos têm algo de mestiço, de índio ou de negro. Em nosso continente, a maioria da população é mestiça, embora às vezes nem pareça. Assim, não temos do que nos envergonhar: todos merecem o mesmo respeito.
Ninguém pode maltratá-la por ser mulher. Meninos e meninas, homens e mulheres, somos todos iguais, temos as mesmas capacidades. Não permita que a deixem para trás, que a obriguem a conformar-se com o mínimo, que ofereçam vantagens fáceis por ser menina, que consintam e impeçam que você se desenvolva por si mesma. Não se deixe convencer de que as mulheres são inferiores aos homens, porque isto não é verdade.
Ninguém pode maltratá-lo por ter um defeito físico. Ter um defeito físico não é algo terrível e nem é culpa sua. Por causa disso você não é uma criança anormal. Crianças cegas, surdas, mudas, ou com alguma doença grave podem aprender se lhes for dedicada maior atenção e amor. As crianças com problemas, e precisamente por isso, devem ser tratadas com consideração especial.
Ninguém pode maltratá-lo por você ser de outro lugar. 
Ninguém deve fazê-lo sentir-se mal por você ser de outro país, cidade ou povoado. Talvez você seja um pouco diferente dos demais por falar outro idioma, ter outro sotaque, ter outros gostos e hábitos e outras idéias. Mas ser diferente não é um problema. Todos precisamos aprender a compreender e respeitar o que é diferente de nós. Não permita que façam você se sentir estrangeiro, especial ou estranho: você tem os mesmos direitos que todos os outros.
Ninguém pode maltratá-lo por não aprender rápido. Cada criança é diferente e aprende de maneira diferente. Uns aprendem mais devagar que outros.
Uns são bons em algumas matérias, outros em outras. Se você não aprende rápido, talvez o problema não seja seu, mas de quem ensina e de como ensinam você.
Ninguém pode aprender se não entender, se não encontrar o gosto ou a utilidade do que lhe ensinam, se o ameaçam e castigam constantemente.
Não se deve aceitar que alguém chame você de bobo, ignorante ou incapaz. Se você não entender, pergunte. Você tem o direito de perguntar, direito de que expliquem e ensinem a você. Para isso é que serve a escola. Para isso é que servem os professores.

Querido menino ou menina: a escola foi feita para que as criançasestejam juntas, brinquem, aprendam e se sintam felizes. Se você se sentir triste, se sentir mal, é a escola que vai mal, não você.

Querido menino ou menina: não permita que somente o lembrem de suas obrigações. Reclame por seus direitos. Aprenda a defender seus direitos desde criança para que assim você possa defendê-los melhor quando crescer.


autoria de Rosa María Torres, crônica originalmente publica em um jornal do Equador, republicada no livro "Educação e Imprensa", coleção Questões de Nossa Época, n.º 55, Cortez Editora.


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